Não posso esquecer :Festa do Pedrinho hoje!
31 de outubro de 2008.
De longe era possível escutar o som da festa, quase todos haviam chegado, mas Amélia tardara um pouco mais por causa do trânsito, detestava chegar atrasada em qualquer lugar, achava sempre que todos iriam notá-la por isso, odiava chamar a atenção, preferia viver longe dos holofotes da vida.
Pedro completara seus tão sonhados 21 anos, havia convidando apenas os bons amigos para a comemoração e esperava ansioso a chegada de Amélia. Por mais que ele tentasse esconder a sua paixão por ela, todos já sabiam que ele morria de amores pela bela mulata desde os tempos de colégio. Além de tímido, Pedro era receoso demais para revelar seus sentimentos à Amélia, tinha um profundo medo de sua reação, por isso a amava em um silêncio ensurdecedor e solitário.
Pedro aguardava também um primo que vinha de longe para visitá-lo e talvez instalar-se definitivamente na cidade. Fernando era um músico profissional, sem muita fama e sucesso é verdade, mas de uma qualidade inquestionável. Prometera ao aniversariante que animaria a festa, mas como demorara muito, Pedro improvisara um som enquanto aguardava a chegada de Fernando.
Um táxi apontara na esquina, ao mesmo tempo que o carro de Amélia aproximara-se. Pedro respirou aliviado e logo um enorme sorriso despontou em seus lábios ao ver os dois.
Sorridente como sempre Amélia desceu do carro com um embrulho em mãos e ia em direção a Pedro quando percebeu que esquecera a bolsa, com passos rápidos e desajeitados deu meia volta rumo ao carro.Fernando descera do táxi e tentava carregar todas as malas, o taxista havia estacionado atrás do carro de Amélia.Tropeçando nos próprios pés ele seguia em direção a Pedro quando deu por falta de seus óculos; equilibrando-se mais ainda, voltou dirigindo-se ao táxi; neste mesmo instante Amélia fechava a porta do carro após ter pego a bolsa.
__ AMÉLIA! Pedro arregalou os olhos que já eram grandes e correu para socorrê-la.
Fernando caído no chão gritava pelo taxista que já estava longe e muito exaltado soltava palavras nada agradáveis aos ouvidos.
Neste momento, Amélia o fuzilou com um olhar intenso de raiva e efusivamente mandou-lhe calar a bendita boca; porém, Fernando prosseguiu com seu discurso depravado e ignorou-a. Após erguer Amélia do chão e perguntar-lhe inúmeras vezes se havia machucado-se, Pedro ajudou o primo a recolher as malas e assim seguiram os três em direção à festa. Amélia e Fernando iam emburrados e calados, trocando alguns olhares repletos de palavras ofensivas enquanto Pedro expressava euforicamente o quanto estava feliz com a presença dos dois, comentava e ria sozinho do pequeno incidente, sem nem preocupar-se com a reação das pobres vítimas.
Porém, por mais que tentassem demonstrar o contrário, ambos estavam achando graça de tudo aquilo. Fernando olhou para Amélia e começou a rir compulsivamente do que havia acontecido, ela até tentou resistir mas ao olhar para ele e ver seus olhos encharcados e seu rosto completamente avermelhado, começou a rir também.
Fernando e Amélia sentiram algo novo naquele momento, todos os sentimentos conflituavam-se naquele instante, num misto de alegria e timidez, de desejo e repulsa; uma intensa vontade de estar perto e sorrir.
Amor no primeiro esbarro ou se preferir, no primeiro sorriso.