quarta-feira, dezembro 30

Sou só mais um ou sou um só?


Quem um dia eu fui?
Em quem eu me transformei? 
O que sou hoje?
Quem serei depois das seis?

Quem deixei que vissem em mim?
Quem escondi pra ninguém encontrar?
Com quem me pareço quando sou eu?
Diferente de quem eu posso me tornar?

Qual face devo usar hoje?
Tenho mil e tantas, tanto faz.
Como devo me comportar antes da meia noite
até me esconder em um dos sepulcros em que meu eu jaz?

Quem um dia eu fui?
Em quem me transformei?
O que é que eu sou hoje?
Quem serei antes das seis?

Qual sorriso é o mais sincero?
Pra quem é que eu devo sempre sorrir?
Com que olhar devo olhar o outro?
Será que ele também tem sepulcros e jaz dentro de si?

Em quem vou me transformar um dia?
Com quem é que eu vou me parecer?
 Como é que a gente deixa de ser como era antes?
Será que eu sou mesmo do jeito que eu devia ser?


Das perguntas que a gente faz sem pensar 
ou pensa sem nunca fazer.

segunda-feira, dezembro 7

Navegante




Perceba-me como um pequeno barco 
abandonado em um velho cais
procurando refúgio em algum lugar
silenciosamente, um vestígio qualquer de paz

olho para o mar e sou tomado pelo medo
só o canto dos pássaros me acalma
mas logo se torna enfadonho, mesmice
tão sem rumo quanto o balançar destas águas

que me levam e me deixo ir
ao desconhecido, ao incerto, ao mar
não sei o caminho, não tenho trilha
não sei partir, não sei voltar

mas se o mar me der paz
se o mar me ajudar a ouvir minha própria voz
disposto estou a navegar sem rumo
sem caminho
sem trilha
sem ver
sem ter
só sendo,
sendo quem sou,
sem porque, sem pra quê,
só por ser.

...Mar, me presenteie com um pouco de paz
afaste de mim toda palavra que o vento traz.
Hoje eu só quero me ouvir um pouco
eu só quero me lembrar de quem eu sou.

[J. M.]




domingo, setembro 20

Regresso


Parei pra pensar em como voltar a rabiscar algo por aqui. Sinceramente? Não faço ideia de como começar. Faz muito tempo que abandonei essa forma de expor o que sinto através das palavras. Pra falar a verdade, eu sinto uma enorme saudade disso.
A correria do cotidiano, o grito das obrigações no ouvido me dizendo que tenho que crescer, amadurecer, ser alguém na vida, foram me roubando parte de mim, parte esta que se manteve aqui neste amontoado de palavras escritas, tão exposto, mas ao mesmo tempo, tão escondido de tudo e de todos (sem muitas visualizações, como sempre).
Decidi tentar recuperar esse pedacinho de mim. Tenho tido a necessidade de me esvaziar da melhor forma que aprendi.
Espero que esse seja a primeira escrita (meio "muito" sem noção) de muitas outras neste meu refúgio, diante desse cotidiano apressado, cheio de números, pessoas, sentimentos e mudanças!

domingo, outubro 28

Ingênuos


O desejo de cuidar sempre chega ao coração
quando o pensamento se rende a outro ser,
a vontade de amar sempre toma a emoção,
quando das próprias vontades se abdica 
ao encantar-se por aquele outro ser.

Nasce então uma alegria, que teimosamente
em felicidade um dia se transformará,
já que o sentido do amor é perpetuar sorrisos
em lábios que se amam no findar de cada dia,
buscando a tal felicidade, em quem a alegria
quer um dia se transmutar.

Quando humanamente somos capazes de perceber,
os olhares já se cruzaram e se encontraram num tempo futuro
que sabe dizer da nossa alegria, dos nossos encontros;
quando ingenuamente notamos, duas vidas já transformaram-se em apenas uma;
é que o amor faz milagre, o amor quer casa, o amor quer existir,
o amor quer ser maior, que é pra poder se fazer pequeno 
perto da grandeza que é aprender a reciprocamente sempre amar.

Humanos e ingênuos é o que somos, quando nos deparamos com o tal do amor.