domingo, outubro 28

Ingênuos


O desejo de cuidar sempre chega ao coração
quando o pensamento se rende a outro ser,
a vontade de amar sempre toma a emoção,
quando das próprias vontades se abdica 
ao encantar-se por aquele outro ser.

Nasce então uma alegria, que teimosamente
em felicidade um dia se transformará,
já que o sentido do amor é perpetuar sorrisos
em lábios que se amam no findar de cada dia,
buscando a tal felicidade, em quem a alegria
quer um dia se transmutar.

Quando humanamente somos capazes de perceber,
os olhares já se cruzaram e se encontraram num tempo futuro
que sabe dizer da nossa alegria, dos nossos encontros;
quando ingenuamente notamos, duas vidas já transformaram-se em apenas uma;
é que o amor faz milagre, o amor quer casa, o amor quer existir,
o amor quer ser maior, que é pra poder se fazer pequeno 
perto da grandeza que é aprender a reciprocamente sempre amar.

Humanos e ingênuos é o que somos, quando nos deparamos com o tal do amor. 

Desejo indiscreto


E eu consigo enxergar nestes olhos teus, negros como a noite, o amor que eu indiscretamente sempre desejei pra mim. Às vezes por alguns instantes, eu tenho a impressão de que o amor se transforma para mim em algo concreto e palpável quando dirijo os meus olhos a você, mas percebo que rapidamente tal ideia se esvai, talvez em instantes mais curtos ainda,  já que o amor não pode ser tocado, o amor não é matéria!

 No final de tudo isso, sempre acabo ficando apenas com este teu intenso olhar, que venerando-me assim numa reciprocidade única e perfeita, se parece em demasia com o amor que eu indiscretamente sempre desejei pra mim. 

Lugares Proibidos
(Adriana Calcanhotto)

"Eu gosto do claro quando é claro que você me ama
Eu gosto do escuro no escuro com você na cama
Eu gosto do não se você diz não viver sem mim
Eu gosto de tudo, tudo o que traz você aqui
Eu gosto do nada, nada que te leve para longe
Eu amo a demora sempre que o nosso beijo é longo
Adoro a pressa quando sinto sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar..."




terça-feira, outubro 2

O coração do meu moço



E esse meu amor que eu guardo no peito meu, bem protegido de todos os males e olhares, é todo teu, seu moço. 
Eu? Ah, eu sou apenas uma guardiã do meu amor que é teu. Não faço outra coisa a não ser contemplar o amor que um dia poderei lhe dar.
Quando tu o quiseres, seu moço, basta pedir-me as chaves para abrir o coração que me deixaram a vigiar, pois vivo esperando a sua chegada, qualquer ruído já faz o peito palpitar de esperanças.
Sempre me perguntam como posso saber que o amor que guardo às chaves no meu coração, pertence ao moço. Eu sempre respondo com esse meu sorriso vexado, meio avergonhado, que se o meu amor não fosse desse moço, oras, não seria amor! Sempre dou-lhes as costas despercebidamente, mas sem nenhuma falta de minha educação.
Indagam-me sempre sobre o que seria se não fosse amor. E eu sempre digo sorridente, com esses meus olhos  quase que querendo ser o próprio amor que, se o meu amor não fosse do meu moço,  seria qualquer sentimento, qualquer palavra solta de um verso, um pobre passo falso ou até uma vida na contramão. Na certeza de que é  sincero o  amor, o amor do meu moço que já tem meu coração, sempre saio cantarolando as cantigas ensinadas às donzelas enamoradas.
Quando sozinha, a vigiar meu coração que guarda o amor, eu sempre fico a pensar que pra ser amor por todo esse tempo que se finda dia a dia num infinito de realidade, esse amor há de ser teu, moço. E se não for teu, nunca será amor. E sei que tu também já sabes bem.

Se não fosse teu, não seria amor, moço.
Se não fosse teu meu coração, eu jamais saberia como amar.