quarta-feira, dezembro 30

Meu bem


Eu sei que você não faz ideia do que aconteceu com a minha vida depois que você chegou. Eu sei, eu sei, finjo muito bem! Mas desde aquele dia em que você me olhou nos olhos e me recitou um poema de rimas ruins, só pra me fazer sorrir da sua capacidade de ser tão bobo e engraçado, eu comecei a te ver com outros olhos. Claro que não foi por causa do seu poema horrendo e clichê!
Acho que foi com o tempo e eu não percebi. Ás vezes parece que fui me apaixonando por partes, sabe? Você me conquistou descaradamente e se escondeu no porão do meu peito. Arrumou a bagunça que outra pessoa tinha deixado, quando fugiu dele e jogou as chaves na lixeira.
Mas agora tenho medo de dizer o que sinto. Nós somos tão amigos, dividimos tanto de nós mesmos um com o outro. Eu fico apreensiva e desesperada só de pensar na possibilidade de você achar que estou sendo tola e confundindo as coisas. Porém, fico surtando e roendo as unhas toda vez que penso, imagino, fantasio longinquamente a possibilidade mínima de você dizer que sente o mesmo por mim.
Eu finjo bem, eu sei. Mas está começando a ficar difícil sufocar toda a vontade que tenho de te dar todo o meu amor e de te fazer todas as juras que guardo no peito, desde o dia em que você abriu meu porão e pôs aquela música pra tocar.


Para ler ao som de "Pétala - Djavan".


Sou só mais um ou sou um só?


Quem um dia eu fui?
Em quem eu me transformei? 
O que sou hoje?
Quem serei depois das seis?

Quem deixei que vissem em mim?
Quem escondi pra ninguém encontrar?
Com quem me pareço quando sou eu?
Diferente de quem eu posso me tornar?

Qual face devo usar hoje?
Tenho mil e tantas, tanto faz.
Como devo me comportar antes da meia noite
até me esconder em um dos sepulcros em que meu eu jaz?

Quem um dia eu fui?
Em quem me transformei?
O que é que eu sou hoje?
Quem serei antes das seis?

Qual sorriso é o mais sincero?
Pra quem é que eu devo sempre sorrir?
Com que olhar devo olhar o outro?
Será que ele também tem sepulcros e jaz dentro de si?

Em quem vou me transformar um dia?
Com quem é que eu vou me parecer?
 Como é que a gente deixa de ser como era antes?
Será que eu sou mesmo do jeito que eu devia ser?


Das perguntas que a gente faz sem pensar 
ou pensa sem nunca fazer.

segunda-feira, dezembro 7

Navegante




Perceba-me como um pequeno barco 
abandonado em um velho cais
procurando refúgio em algum lugar
silenciosamente, um vestígio qualquer de paz

olho para o mar e sou tomado pelo medo
só o canto dos pássaros me acalma
mas logo se torna enfadonho, mesmice
tão sem rumo quanto o balançar destas águas

que me levam e me deixo ir
ao desconhecido, ao incerto, ao mar
não sei o caminho, não tenho trilha
não sei partir, não sei voltar

mas se o mar me der paz
se o mar me ajudar a ouvir minha própria voz
disposto estou a navegar sem rumo
sem caminho
sem trilha
sem ver
sem ter
só sendo,
sendo quem sou,
sem porque, sem pra quê,
só por ser.

...Mar, me presenteie com um pouco de paz
afaste de mim toda palavra que o vento traz.
Hoje eu só quero me ouvir um pouco
eu só quero me lembrar de quem eu sou.

[J. M.]




domingo, setembro 20

Regresso


Parei pra pensar em como voltar a rabiscar algo por aqui. Sinceramente? Não faço ideia de como começar. Faz muito tempo que abandonei essa forma de expor o que sinto através das palavras. Pra falar a verdade, eu sinto uma enorme saudade disso.
A correria do cotidiano, o grito das obrigações no ouvido me dizendo que tenho que crescer, amadurecer, ser alguém na vida, foram me roubando parte de mim, parte esta que se manteve aqui neste amontoado de palavras escritas, tão exposto, mas ao mesmo tempo, tão escondido de tudo e de todos (sem muitas visualizações, como sempre).
Decidi tentar recuperar esse pedacinho de mim. Tenho tido a necessidade de me esvaziar da melhor forma que aprendi.
Espero que esse seja a primeira escrita (meio "muito" sem noção) de muitas outras neste meu refúgio, diante desse cotidiano apressado, cheio de números, pessoas, sentimentos e mudanças!