sexta-feira, março 25

Sinceridades à parte



Sinceramente, não gosto de iludir-me, aliás tenho pavor imensurável por ilusões. São sempre iguais, as mesmas tolices, as rotineiras expectativas, os mesmos desejos e as mesmíssimas lágrimas.
Prefiro apenas atrair-me, ou melhor, deixar que atraiam-me.
Paixão mesmo, só se houver reciprocidade equivalente, se ambos desejarem-se com igual intensidade.
Porém, por mais que eu tente escapar, os emaranhados do meu coração aprisionam-me constantemente, querem sempre que eu ame mais, deseje mais e sonhe um pouco mais. Querem exterminar qualquer vestígio de razão que tente impedir que eu me  apaixone.

Sinceramente, não gosto de iludir-me...
... mas quase todos os dias um certo olhar  e um belo sorriso têm arrancado de mim alguns suspiros, não apaixonados mas, talvez um tanto quanto bobos e encantados.


terça-feira, março 22

Primeira vez


Dor de coração é pior que dor de dente.
Dói lá no fundo, vai arrancando pedacinhos da gente
 desmonta toda a coragem
que cansada arruma a bagagem, parte.

Deixa o coração sozinho, magoado 
 pequenino
Meio assim, sem querer sorrir
 querendo nada mais querer
querendo sumir.

Dor de coração é bem pior
do que qualquer outra dor que possa haver
Coração é tão bobo e frágil, não achas?
De tudo um pouco tem que ter.

Dor de coração dói mesmo e deveras nunca passa 
 quando de relance diz que se vai,
 é só pra voltar outrora, audaciosa e fugaz
magoar o coração, deixá-lo na solidão
e fazê-lo sofrer mais uma vez
mas como se fosse a primeira 
de tantas que o amor já lhe fez.

quarta-feira, março 16

Autobiografia - Rabiscando




Ela era bem comum, de longe previsível, de perto bem humana.

Aparentemente não possuía notáveis singularidades, as quais só tornavam-se perceptíveis aos olhos alheios depois que ela revelava-se, unicamente.Era de uma fragilidade desmedida, porém bem disfarçada.
Não era doce demais e nem muito amarga, havia um equilíbrio raro entre meiguice e ferocidade.Ela carregava em sua face um par de olhos negros esbugalhados que adoravam fitar outros, falava silenciosamente com o olhar e quase sempre entendiam-lhe.
Sorriso largo e timbre melodicamente agradável.
Sabia usar muito bem seu sarcasmo, ela possuía uma tímida sinceridade em todos os gestos.
Confundia sentimentos e intenções, talvez por ter carência de afeto ou quem sabe por ser demasiadamente intensa e amável.
Ela esquecia seus ressentimentos tão depressa quanto magoava-se.Era quieta,calada e pensativa. Mas quando queria transformava-se inversamente e na mesma intensidade.
Era diferente,coisa nunca vista,ser em constante mutação.

Mas como eu bem dizia, ela era bem comum, de longe previsível, de perto bem humana.