quinta-feira, dezembro 15

Quero sementes...





"Paciência, menina!"

As pessoas vivem dizendo para eu ter mais paciência, como se conhecessem a paciência que tenho em demasia dentro de mim. Sou paciente sim, na verdade uma " paciente" quase em estado de coma!
As pessoas dizem que eu nunca espero nada, que quero tudo do meu jeito, que murmuro demais e sou teimosa.
Mas se eu estacionar na paciência que já tenho e ainda buscar ter a paciência que me mandam procurar, eu vou acabar completamente inerte do presente, do passado e do futuro, vivendo de algo que não existe, mas que devo esperar. Entende? Eu também não entendo.
Bem que podiam me pedir pra cultivar outra coisa. Meu jardim está bem cheio, tem paciência demais, compreensão à vontade e prudência por todo lado. Também têm algumas pragas, não nego; um medo crescendo sem limites, umas rosas indecisas que não parecem saber para onde crescer e já estão espalhando-se por todo o jardim.
Peçam-me pra cultivar mais atitude ao invés de paciência!
Só tem um pé dessa flor aqui no meu jardim e ele não tem crescido. Continua mirrado e sem vida, ficou assim desde que uma praga, a omissão, chegou por aqui. A omissão foi contida, felizmente, mas o meu pezinho de atitude não mais reagiu.
Peçam-me o que eu não tenho no jardim, preciso conhecer novas flores, posso também visitar outros jardins. Ofereçam-me pássaros também, gosto de pássaros. Vê-los voando livre me faz querer voar também.
Peçam-me, pois com tanta paciência brotando em mim aprendi a esperar que me peçam e que me falem e sinceramente, já me cansei disso!

 Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim...

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei...
(Minha herança: Uma flor - Vanessa da Mata)





quarta-feira, dezembro 7

Menina-coração


Brincando com meu próprio coração, eu descobri suas artimanhas.Quer comandar sempre, possuir-me integralmente sem quaisquer tentativa de diálogo com minha razão.Eu passei tempos brincando com meu coração, desbravando seus labirintos, desvendando seus mistérios.
Dizem que amamos com o cérebro e não com o coração. Que seja! Sabe-se lá se esse meu coração que ama está no peito ou na cabeça.Acho mesmo é que coração é uma menina espevitada que vive aprontando dentro de mim, vive num vai e vem, transitando por um jardim com portões em meus olhos, flores em meu pensamento e uma mata escura e perigosa no peito.
Essa menina-coração não se preocupa comigo, não amadurece nem cresce. Parece irreal!
Sei que não devia mas gosto muito dessa menina. Tenho medo de um dia perdê-la. Sabe-se lá se a minha menina-coração peralta e aventureira resolve fazer trilha na mata escura.
Não! Lá há sentimentos perigosos, minha menina-coração não saberia como voltar, e mesmo se soubesse poderia ficar presa por algum sentimento forte o bastante para aprisioná-la.
Enquanto não conheço os perigos desta mata escura que fica aqui perto do peito pulsando como se tivesse uma vida, como se gritasse angustiantemente pedindo algo, prefiro que a menina-coração continue assim com seu jeito inconsequente e espoleta, que vive correndo pelo jardim ralando seus joelhos e escondendo-se de jardineiros desconhecidos e curiosos que sempre fitam os portões do jardim querendo descobrir alguma coisa sobre a menina-coração que aqui vive.
Deixe ela aqui, ao menos sei que mal algum pode me fazer. A criei desde pequena, ficou um pouco indisciplinada eu sei, mas é feliz assim.
Traz uma alegria nos olhos e uma paz no sorriso. Ela não pára! Quer sempre colher novas margaridas no jardim pra brincar de bem-me-quer.
É que certo dia, um moço fitou os portões do jardim e a minha menina-coração despercebida acabou por fitar seus olhos também. O moço lhe jogou uma flor diferente das que haviam no jardim, era uma rosa vermelha tão perfumada quanto àquelas que a menina-coração conhecia. Desde então, ela vive à despetalar flores, com um tal de "bem-me-quer, mal-me-quer...". Tem deixado os portões destrancados, esperando ansiosa a visita do moço que lhe roubou o bem querer.

Bem-me-quer, mal-me-quer.
Bem-me-quer, mal-me-quer?

Como assim seu moço? 

quarta-feira, agosto 24

Momentos




E essa história de viver intensamente não é para mim. Nasci para atuar em um enredo onde eu sempre prefiro podar os meus sentimentos; esquecendo, na verdade fingindo um esquecimento. Contentando-me com a saudade que ainda posso sentir, pois o amor ainda vive e se não é amor é quase isso.       
 Coração ficou pequeno de repente. Preencheu-se de alguém que rapidamente o esvaziou.Roubou das minhas palavras e gestos toda arrogância e presenteou-me com uma irônica doçura. Eu tão fria, queria abraço.Eu tão dona de mim, me vi feito criança, precisando de um moleque pra brincar de realidade.
Criança ainda tem tanto pra viver, tem tanto papel diferente pra atuar, que fico me perguntando se ainda existe um capítulo pra nós dois.

Pode ser na minha história ou na tua, tanto faz...