sexta-feira, outubro 8

Amélia e Fernando


Apesar de tudo eram felizes.Casal normal,comum até demais,tão pouco tempo juntos e as incomodas manias de ambos começavam a manifestar-se.A frase que Amélia vivia a pronunciar resumia-se em "Que coisa! Quando namorávamos você não era assim!"
Ele nunca revidava a essa provocação,ou talvez o fizesse,nenhuma mulher gosta de ser ignorada e ele simplesmente lhe dava as costas,atirava-se no sofá e pedia delicadamente " Coloca a pipoca no microondas pra mim?"
Realmente era uma provocação,o estopim para o início de uma longa e tensa D.R,onde só ouvia-se a voz aguda e trêmula de Amélia fazendo centenas de reclamações enquanto ele proferia-lhe vocábulos desinteressados tão calmamente que quem ouvisse tudo aquilo,a intitularia de mulherzinha insuportável e ele seria julgado como o capacho da história.
Depois de um tempo Amélia sempre cansava-se de conversar com um homem robô programado para desdenhar de seus sentimentos e de suas lamúrias.Todas as vezes em que esse episódio se repetia,Amélia saia pisando alto e quando chegava no corredor corria para o quarto com os olhos já cheios d'água e os nós da garganta desfazendo-se abruptamente,passava horas e horas remoendo tudo aquilo,procurando razões para as atitudes de Fernando,os soluços interrompiam sua voz,que sussurrava baixinho vários porques.
Em poucos minutos o travesseiro já estava encharcado de suas lágrimas e os olhos vermelhos,ela já havia parado de chorar e começava a pensar em outras coisas,fazia planos pro dia seguinte,planos banais,coisas do cotidiano,mas essa era uma de suas maiores qualidades, a organização.
De repente,Fernando batia na porta sussurrando delicadamente seu nome,ao passo que não ouvia resposta silenciava,dando continuidade á sua insistência depois de uma pequena pausa.Ele sempre recebia como resposta,depois de um tempo curto parado na porta, um "Entre,está aberta".
A fechadura girava tão vagarosamente,que era capaz de refletir perfeitamente o arrependimento de Fernando.Na verdade ele a amava,e a amava muito.Mas Amélia tinha um temperamento muito difícil e ele nunca sabia qual seria a reação certa a tomar em situações como essa.
Ele sempre fora mais calmo,reservado e talvez até um pouco zen.Amélia era toda espoleta,sensível ao extremo,era de uma meiguice sem descrição que lhe caia bem.
Fernando via em Amélia a realização de toda sua felicidade,e ela o tinha como sua felicidade.
Fernando sempre chegava mais cedo do trabalho e adorava preparar um jantar bem feito antes que ela chegasse,Amélia quase não notava muito,talvez tenha caído na rotina.Meio chateado ele havia parado de fazer o jantar além de muitas outras coisas,como escrever bilhetes todos os dias pela manhã e colar na geladeira dizendo o quanto a amava.
Mas,muito antes Amélia havia parado de fazer algumas coisas para agradá-lo também,não passava mais na lanchonete da outra rua para comprar o chocolate que ele adora e nem levava-lhe o café na cama,Fernando quase não percebia os detalhes; o chocolate quase sempre vinha com uma declaração de amor escrita na embalagem e ela amava desenhar corações e escrever com a comida,ele nem lia mais e, se o fazia não demonstrava interesse algum[...]




O amor não é claro e nem direto, é um pouco tímido,um sentimento desastrado e sempre inexperiente que parece mais uma criança que não sabe se cuidar.
Vive atrás de corações para morar,é carente ao extremo,não suporta viver só,precisa de atenção em tempo integral e sente ciúmes até do que não lhe pertence.

Ah,o amor! Tão tolo e tão infantil.
Só sabe buscar felicidade onde não 
se pode encontrar.

Há outros pescadores e outros mares...


E eu me decidi por vendar os olhos e deixar que o rio corra sozinho,meu barco vai seguir o curso que ele fizer e quando chegar a hora de descer a grande cachoeira eu irei simplesmente abstrair-me de tudo isso.Quando chegar o fim desse trajeto eu tirarei as vendas e então verei o que sobrou,o que aconteceu a mim e a tudo que eu tinha trago comigo no barco,creio que muitas coisas cairão durante o momento de adrenalina que enfrentarei,talvez alguns sofrimentos,lembranças que machucam e talvez um certo amor que eu tenho.
Estou bem ciente que devo tomar muito cuidado com as correntezas,elas podem ser bem mais fortes do que eu as julgo,podem mudar a trajetória do meu barco e conduzir-me novamente à margem do rio.
Já andei esvaziando-o um pouco ,o achei muito fraco para carregar tanta carga.Só não sei ainda o dia em que  partirei,estou esperando a resposta do meu coração,quando ele sentir-se pronto iremos sem rumo certo.
Particulamente eu desejo encontrar o mar e desbravá-lo como os piratas,assaltar navios enormes em busca de corações solitários.
No rio de onde partirei habita apenas o pescador que fisgou-me e eu já não quero mais viver sentada sozinha á beira do rio enquanto ele se afasta com seu barco para horizontes que eu desconheço.
Por isso eu quero o mar,talvez lá tenha um outro pescador  que tenha um coração nobre e um sorriso nos olhos,que saiba galantear-me sem mentiras  e que ame  escrever poesias para mim,aliás, pescador de mar sempre volta ao cais e eu sei que não ficarei só.
E se meu pescador trouxer para mim todos os dias uma concha de amor, se ele me der atenção de verdade e me mimar sem eu pedir eu tenho a certeza que serei sempre feliz.Não precisarei mais desbravar o mar,nem descer cacheiras de olhos fechados pois prenderei meu barco no cais e não mais navegarei sozinha sem amor,o novo pescador me acompanhará e cuidará de mim assim como ele cuida dos seus versos.

Ele fisgará meu coração
E o tomará para si
Não me deixará na saudade
E se deixar
É pouca
Pois sempre voltará a mim.

Ele me levará em seu barco
Será sempre o meu pescador
 E me fará  feliz a cada dia
 Com seus singelos versos 
de amor.

Como sempre ♥


Andei pensando em nós,ou melhor em minha vida sem você.Acho que não existe mais nada,nenhum vestígio de um possível sentimento recíproco.
Não precisa me relembrar que foi eu quem alimentei esperanças sem sentido, que vi a possibilidade de ser feliz onde não havia.Você sempre tão meigo,compreensivo,educado e perfeito e eu tão iludida,desconcertada,tímida e boba.
Talvez eu tenha te sufocado,invadido o teu espaço mas não me leve a mal,eu só queria me sentir mais perto de você e assim tentar ser feliz.
Andei pensando tanto nesse sentimento que me esmaga há tanto tempo e percebi que ele nem sequer tem mais vida,já está vegetando em fase terminal,os olhos já não se abrem mais e assim não falam a você o que eu sinto.
Eu comecei a reprimir meu coração depois daquele dia,no fundo eu sempre te amei mas era aparentemente mais corajoso fingir que não sentia nada,agir como se nada houvesse acontecido.
Acho que não foi a melhor decisão,quer dizer,não acho nada.
Estou bastante confusa com tudo isso.Não sei bem se quero desligar totalmente os aparelhos que ainda mantém vivo o que sinto por você,no entanto tenho a certeza de que não quero viver assim pra sempre,amando de olhos fechados e com o coração a sangrar 24hrs por dia.
Às vezes o "basta" se torna necessário,só não sei se chegou o momento.
Você sempre tão obscuro,subjetivo e amigo fez -me confundir um pouco as coisas.
Têm tantas palavras aqui que eu não lhe disse,tantos versos que eu queria cantar pra você e não pude,tem um carinho bem guardado na palma da minha mão só pra você e um sorriso na timidez do meu  olhar que ainda teima em esperar de você qualquer resposta .
Um sim ou um não,só isso me basta.

Não mais mendigarei seu amor
Eu subirei de classe na vida meu bem
Passarei de reles pedinte 
de carinho
de abrigo
 a alguém que nova morada tem.