sábado, abril 2

Amélia e Fernando II - Amor no primeiro esbarro


Não posso esquecer :Festa do Pedrinho hoje! 
31 de outubro de 2008.

De longe era possível escutar o som da festa, quase todos haviam chegado, mas Amélia tardara um pouco mais por causa do trânsito, detestava chegar atrasada em qualquer lugar, achava sempre que todos iriam notá-la por isso, odiava chamar a atenção, preferia viver longe dos holofotes da vida.
Pedro completara seus tão sonhados 21 anos, havia convidando apenas os bons amigos para a comemoração e esperava ansioso a chegada de Amélia. Por mais que ele tentasse esconder a sua paixão por ela, todos já sabiam que ele morria de amores pela bela mulata desde os tempos de colégio. Além de tímido, Pedro era receoso demais para revelar seus sentimentos à Amélia, tinha um profundo medo de sua reação, por isso a amava em um silêncio ensurdecedor e solitário.
Pedro aguardava também um primo que vinha de longe para visitá-lo e talvez instalar-se definitivamente na cidade. Fernando era um músico profissional, sem muita fama e sucesso é verdade, mas de uma qualidade inquestionável. Prometera ao aniversariante que animaria a festa, mas como demorara muito, Pedro improvisara um som enquanto aguardava a chegada de Fernando.
Um táxi apontara na esquina, ao mesmo tempo que o carro de Amélia aproximara-se. Pedro respirou aliviado e logo um enorme sorriso despontou em seus lábios ao ver os dois.
 Sorridente como sempre Amélia desceu do carro com um embrulho em mãos e ia em direção a Pedro quando percebeu que esquecera a bolsa, com passos rápidos e desajeitados deu meia volta rumo ao carro.Fernando descera do táxi e tentava carregar todas as malas, o taxista havia estacionado atrás do carro de Amélia.Tropeçando nos próprios pés ele seguia em direção a Pedro quando deu por falta de seus óculos; equilibrando-se mais ainda, voltou dirigindo-se ao táxi; neste mesmo instante Amélia fechava a porta do carro após ter pego a bolsa.
__ AMÉLIA! Pedro arregalou os olhos que já eram grandes e correu para socorrê-la.
 Fernando caído no chão gritava pelo taxista que já estava longe e muito exaltado soltava palavras nada agradáveis aos ouvidos.
 Neste momento, Amélia o fuzilou com um olhar intenso de raiva e efusivamente mandou-lhe calar a bendita boca; porém, Fernando prosseguiu com seu discurso depravado e ignorou-a. Após erguer Amélia do chão e perguntar-lhe inúmeras vezes se havia machucado-se, Pedro ajudou o primo a recolher as malas e assim seguiram os três em direção à festa. Amélia e Fernando iam emburrados e calados, trocando alguns olhares repletos de palavras ofensivas enquanto Pedro expressava euforicamente o quanto estava feliz com a presença dos dois, comentava e ria sozinho do pequeno incidente, sem nem preocupar-se com a reação das pobres vítimas.
Porém, por mais que tentassem demonstrar o contrário, ambos estavam achando graça de tudo aquilo. Fernando olhou para Amélia e começou a rir compulsivamente do que havia acontecido, ela até tentou resistir mas ao olhar para ele e ver seus olhos encharcados e seu rosto completamente avermelhado, começou a rir também.
Fernando e Amélia sentiram algo novo naquele momento, todos os sentimentos conflituavam-se naquele instante, num misto de alegria e timidez, de desejo e repulsa; uma intensa vontade de estar perto e sorrir.

Amor no primeiro esbarro ou se preferir, no primeiro sorriso.

sexta-feira, março 25

Sinceridades à parte



Sinceramente, não gosto de iludir-me, aliás tenho pavor imensurável por ilusões. São sempre iguais, as mesmas tolices, as rotineiras expectativas, os mesmos desejos e as mesmíssimas lágrimas.
Prefiro apenas atrair-me, ou melhor, deixar que atraiam-me.
Paixão mesmo, só se houver reciprocidade equivalente, se ambos desejarem-se com igual intensidade.
Porém, por mais que eu tente escapar, os emaranhados do meu coração aprisionam-me constantemente, querem sempre que eu ame mais, deseje mais e sonhe um pouco mais. Querem exterminar qualquer vestígio de razão que tente impedir que eu me  apaixone.

Sinceramente, não gosto de iludir-me...
... mas quase todos os dias um certo olhar  e um belo sorriso têm arrancado de mim alguns suspiros, não apaixonados mas, talvez um tanto quanto bobos e encantados.


terça-feira, março 22

Primeira vez


Dor de coração é pior que dor de dente.
Dói lá no fundo, vai arrancando pedacinhos da gente
 desmonta toda a coragem
que cansada arruma a bagagem, parte.

Deixa o coração sozinho, magoado 
 pequenino
Meio assim, sem querer sorrir
 querendo nada mais querer
querendo sumir.

Dor de coração é bem pior
do que qualquer outra dor que possa haver
Coração é tão bobo e frágil, não achas?
De tudo um pouco tem que ter.

Dor de coração dói mesmo e deveras nunca passa 
 quando de relance diz que se vai,
 é só pra voltar outrora, audaciosa e fugaz
magoar o coração, deixá-lo na solidão
e fazê-lo sofrer mais uma vez
mas como se fosse a primeira 
de tantas que o amor já lhe fez.

quarta-feira, março 16

Autobiografia - Rabiscando




Ela era bem comum, de longe previsível, de perto bem humana.

Aparentemente não possuía notáveis singularidades, as quais só tornavam-se perceptíveis aos olhos alheios depois que ela revelava-se, unicamente.Era de uma fragilidade desmedida, porém bem disfarçada.
Não era doce demais e nem muito amarga, havia um equilíbrio raro entre meiguice e ferocidade.Ela carregava em sua face um par de olhos negros esbugalhados que adoravam fitar outros, falava silenciosamente com o olhar e quase sempre entendiam-lhe.
Sorriso largo e timbre melodicamente agradável.
Sabia usar muito bem seu sarcasmo, ela possuía uma tímida sinceridade em todos os gestos.
Confundia sentimentos e intenções, talvez por ter carência de afeto ou quem sabe por ser demasiadamente intensa e amável.
Ela esquecia seus ressentimentos tão depressa quanto magoava-se.Era quieta,calada e pensativa. Mas quando queria transformava-se inversamente e na mesma intensidade.
Era diferente,coisa nunca vista,ser em constante mutação.

Mas como eu bem dizia, ela era bem comum, de longe previsível, de perto bem humana.