domingo, janeiro 17

Existência (Versos banais)


Experimente ser você
mesmo que ser você 
seja ser também um pouco triste.

Experimente
conjugar no presente
a lista de verbos importantes
que a vida te ensina todo dia.

Nasceu?
Então aprenda a sorrir
pensar
agir
chorar
falar 
calar
sonhar
ousar
sofrer
perdoar
sentir 
viver
 e então,
 morrer.

domingo, janeiro 3

Broto de amor


Não tire os teus olhos negros de mim
Pense em nós como uma composição de Caetano
Poesia nua, amor puro, sonho a dois

Não tire os teus longos braços de mim
Cada verso dessa canção diz eu te amo
Em todos os tempos verbais, antes e depois

Fique por mim, por nós, pela canção,
que seja
Ria pra mim, sem voz, silenciosamente,
mas perceba

A canção tem altos e baixos,
tem melismas, do, ré mi, fá, sol
 E lá no peito pulsa uma criança
que nasce toda vez que você canta 
e me encanta
e espanta
Todo medo de morrer
padecer
e entristecer
O amor que eu plantei
e regando entre lágrimas
um dia vi brotar.


quarta-feira, dezembro 30

Meu bem


Eu sei que você não faz ideia do que aconteceu com a minha vida depois que você chegou. Eu sei, eu sei, finjo muito bem! Mas desde aquele dia em que você me olhou nos olhos e me recitou um poema de rimas ruins, só pra me fazer sorrir da sua capacidade de ser tão bobo e engraçado, eu comecei a te ver com outros olhos. Claro que não foi por causa do seu poema horrendo e clichê!
Acho que foi com o tempo e eu não percebi. Ás vezes parece que fui me apaixonando por partes, sabe? Você me conquistou descaradamente e se escondeu no porão do meu peito. Arrumou a bagunça que outra pessoa tinha deixado, quando fugiu dele e jogou as chaves na lixeira.
Mas agora tenho medo de dizer o que sinto. Nós somos tão amigos, dividimos tanto de nós mesmos um com o outro. Eu fico apreensiva e desesperada só de pensar na possibilidade de você achar que estou sendo tola e confundindo as coisas. Porém, fico surtando e roendo as unhas toda vez que penso, imagino, fantasio longinquamente a possibilidade mínima de você dizer que sente o mesmo por mim.
Eu finjo bem, eu sei. Mas está começando a ficar difícil sufocar toda a vontade que tenho de te dar todo o meu amor e de te fazer todas as juras que guardo no peito, desde o dia em que você abriu meu porão e pôs aquela música pra tocar.


Para ler ao som de "Pétala - Djavan".


Sou só mais um ou sou um só?


Quem um dia eu fui?
Em quem eu me transformei? 
O que sou hoje?
Quem serei depois das seis?

Quem deixei que vissem em mim?
Quem escondi pra ninguém encontrar?
Com quem me pareço quando sou eu?
Diferente de quem eu posso me tornar?

Qual face devo usar hoje?
Tenho mil e tantas, tanto faz.
Como devo me comportar antes da meia noite
até me esconder em um dos sepulcros em que meu eu jaz?

Quem um dia eu fui?
Em quem me transformei?
O que é que eu sou hoje?
Quem serei antes das seis?

Qual sorriso é o mais sincero?
Pra quem é que eu devo sempre sorrir?
Com que olhar devo olhar o outro?
Será que ele também tem sepulcros e jaz dentro de si?

Em quem vou me transformar um dia?
Com quem é que eu vou me parecer?
 Como é que a gente deixa de ser como era antes?
Será que eu sou mesmo do jeito que eu devia ser?


Das perguntas que a gente faz sem pensar 
ou pensa sem nunca fazer.