
Lembra-se daquele dia?
Eu procurava um jeito de dizer-lhe sem palavras o que meu coração pulsava.
Não queria dizer um "Eu te amo" banal,ou melhor,banalizado.
Tentei fazer com que visse em meus olhos,enquanto eles reluzentes e esbugalhados numa timidez sem medida, falavam ininterruptamente,mas você nem sequer fitou-os o suficiente para conseguir ouvi-los.
Meus lábios balbuciavam qualquer coisa e minhas mãos transpiravam um suor frio que me desesperava.
Sua indiferença me confundia me aterrorizava,quem dera eu ser vidente pra desvendar teus pensamentos.Mas o que digo? Videntes nem sequer lêem pensamentos. Estupidez minha,perdoe-me!
Acho que nem deves lembrar daquele dia.Mas eu jamais o apaguei de minha memória.
Naquela tarde de verão,eu recolhi tudo que era meu,os sentimentos sufocados,os beijos apenas desejados,os anseios que me tomavam e toda a dor de amar-te em silêncio.
Talvez tenha sido covardia minha,abandonar o navio em plena tempestade.
Tempestade? Ora essa que tempestade?
O mar em que estávamos nem sequer movia-se,nosso barco padecia no mesmo cais.
Talvez eu tenha errado em desistir.Talvez,quem sabe.
Mas se eu tivesse ficado continuaria alimentando-me de ilusões,recebendo apenas as esmolas que o seu coração me doava sem nem sequer perceber;enquanto meu coração faminto,vivia sempre à espera de mais um pouco.
Acho que foi melhor assim. Acho mesmo.Hoje eu já não vivo mais pensando em você.Ando só,perambulando nesse mundo,matando a cada dia um pouco da vontade e um tanto da saudade que vive em mim.
Saudade de ti?Não meu bem,não a cultivo mais!
Essa saudade tão gostosa e tão cruel que me toma. Ah,essa eu tenho de mim mesma.
Aliás,lembra-se daquele dia?