Quem?

Pego-me constantemente perdida por umas ruas estreitas deste pensamento meu.

Deixei-me guiar por um último que levou-me ao centro de um questionamento;eu mesma contestando-me impiedosamente.

O que sou eu?

Pergunta insolente que assombra meus dias, perturba minhas noites e habita-me descaradamente.

Se eu o soubesse seria tedioso.Prefiro esconder-me de mim mesma,nessas vielas e avenidas que me compõem.Talvez por isso evite perambular nessas minhas infelizes ruas nas quais é tão fácil encontrar-me.

Se bem que ando meio camponesa,fugindo dos ares poluídos que há nos meus grandes centros interiores onde habita tão grande multidão.Tenho buscado a solidão,viver um pouco longe de outras faces.

Por essas mesmas ruas tão irreais,comecei a ter uma inquieta preocupação com minha aparência;essa fachada que todos julgam ser eu.

Preconceito! Ninguém é conhecedor dessa figura ambulante que sou  para achar que este casulo à vista sou eu.

Não temo pelo que pensam sobre mim,mas também não ignoro.Sou humana e é instintiva essa aguçada curiosidade pela opinião alheia.

Olho-me no espelho,que me serve como olhos de outros e não tiro a razão de julgarem-me tão...nem palavras detonam essa minha insignificância,talvez  medíocre caía-me bem.Não há em mim sequer um atributo que suscite afabilidade em alguém.

Mas graças! Não sou só rótulo,ou melhor,nem o sou.

Essas ruas me confundem e faz um descompasso desarmonioso nesse meu coração estranho.

E aí lanço-me numa desenfreada e ofegante busca por avenidas,meto-me no caos ensurdecedor,o automático é ativado e eu me esqueço de interrogar-me com essas tantas perguntas inquietantes.

Quem sou?

Sou mistério e assim serei sempre.

Oh ruas, curiosas e desocupadas!